O olhar grita o que as palavras envergonham. — January 31, 2013
my mood today — January 30, 2013

Quando as pessoas defrontam o mundo com tanta coragem, o mundo só pode quebrá-las matando-as, e por isso, é claro, mata-as. O mundo quebra toda a gente, e depois muitos ficam mais fortes no lugar da fractura. Mas àqueles que não consegue quebrar, mata-os. Mata os muito bons, os muito doces, os muito corajosos, imparcialmente. Se não sois desses, também vos há-de matar, mas nesse caso não será particularmente apressado.

– Ernest Hemingway

Anna Inghardt

©Anna Inghardt

“Poetry is eternal graffiti written in the heart of everyone.” Lawrence Ferlinghetti — January 28, 2013
book, theatre @ janeiro —
— January 25, 2013
© Lukasz Wierzbowski — January 22, 2013

Belarmino, cerra os dentes, vem jogar.

Somos tão bons a perder quando não queremos ganhar.

Hoje tem que acontecer, cerra os dentes, vem jogar.

Foi só mais um, atrás de outro.

Foste sempre pouco, com medo de ser inteiro.

E todos param quando cais, apanha-te do chão.

_Belarmino, Linda Martini_

Rogier_Houwen_06

© rougier houwen

© Rogier Houwen — January 20, 2013
Aprender a perder — January 17, 2013

Aprender a perder

O exercício que tem pela frente é aprender a perder, disse-o em frente ao espelho pela manhã ao bochechar o elixir, e ao ver a sua imagem no espelho ainda húmido do vapor do banho, fixou-se do outro lado e imaginou o que seria ver-se do lado de lá, permaneceu inerte e quis parar de imaginar porque tinha de sair para o emprego. Como é que um simples exercício na aula de meditação do dia anterior o fizera ir para mundos tão estranhos, ele que foi sempre tão concreto e racional, agora estas coisas, que o meteram a rever as suas atitudes, a sua vida, as escolhas que fez, o que ganhou, o que o desgasta, o que o nutre, logo ele que o que mais queria era ter tempo para trabalhar ainda mais, que por conselho do médico, após uma crise de pânico, o meteu a refazer algumas escolhas e uma delas foi começar a frequentar um curso de meditação. Imediatamente ao dia da consulta, cogitou, estupefacto, porque não me lembrei antes, desperdiço o fim dos meus dias em trabalho que podia perfeitamente delegar aos meus funcionários, e por perfeccionismo doentio, faça você e só assim sairá bem feito, tanta moral rígida, quando o que me custa sinceramente é dar ordens e acabo eu por assumir a maioria das responsabilidades. Até isto acontecer. Razão tinha o Arlindo, colaborador freelancer na empresa, que em conversas ocasionais ao fim da tarde me foi mostrando o lado salutar de perder tempo para apreciar o essencial, dizia-me, Miguel olha que é importante observares a tua atitude, disse insistentemente, referindo-se à minha ausente capacidade de apreciar com consciência, que ele chama plena, o que a natureza nos dá. Ora bem, lá comecei o curso, no primeiro dia, fizemos um exercício a que chamei de cinco sentidos, logo eu, com dificuldade acrescida já que não aprecio frutos secos, para o que estava guardado, ter que tocar-lhe de olhos bem fechados, sentir-lhe os poros e rugosidades, a mole consistência da pequena massa, em redor de um minúsculo caroço, foi o que me veio à mente, eu ali, de pernas cruzadas, em posição erguida, de costas direitas, desconfortável, os pensamentos em rodopio, amanhã a reunião com os japoneses, e o nero à minha espera no veterinário, já passaram cinco dias que lá ficou depois d´uma briga com o cão do sr. Belmiro do nono andar, cão malvado, coitado do nero, tão solitariamente magro, a minha mãe na casa de repouso a suplicar-me para a levar para a sua casa porque é altura de plantar os tomateiros, o toque na uva-passa condena-me, e oiço a voz do professor, irritante de tão calma, agora sintaam o cheiro, a minha cabeça em turbilhão, e como raio se cheira um fruto seco, que patetice, e porque estou zangado, deixe levar-se pela imaginaçãoo, pelas sensações corporais, outra vez a voz irritante, atenção plena ao momento, inspirem o odor que a passa vos proporciona, agora aproximem-na, devagar, junto ao ouvido, a que vos soa, repetia prolongadamente, a rigorosamente nada pensei, quando é que isto acaba, em que é que isto me vai ajudar, abram os olhos, observem com atenção o que está em vosso redor, devagar, oiçam os sons exteriores, tão minúscula esta coisa enrugada e insignificante, esta tortura dos sentidos só vai terminar quando a comer, agora levem-na cuidadosamente à boca, sintam nos lábios a sua consistência, vagarosamente rodopiem-na na língua, mas que figura ridícula que estou a fazer, parece um filme erótico barato, quem disse que a meditação serve para todos, preciso lá agora de conselhos através da atenção plena, preciso é de me levantar daqui para fora e ir para casa, chegar a casa, é o que preciso, o de todos os dias, beber um gin, dois ou três, antes de me deitar, até que os cinco sentidos desapareçam na mais profunda e desesperada solidão.

© Andrea

EH p32 f 38

© Edward Hopper